sábado, novembro 12, 2005

o enterro do vírus

Certo dias precisamos enterrar pessoas não aquelas que não respiram mas as outras aquelas que sabem o que sentimos e nem por isso deixam de viver
Certos dias
precisamos empunhar uma pá
cavar feito loucos
abrir sepulturas sem descanso
jogar corpos e socar com os pés
dançando sobre a terra
Certas noites
precisamos dizer masi que adeus
precisamos ser maus
e enterrar a causa da dor
mesmo sendo a da imagem amada
Certas noites
devemos revirar o inferno
procurar uma loção purificadora
o unguento para transformar
a atração em repulsa o ideal em desleal
o sonho em tormento a ilusão em verdade
Certas noites
devemos desprezar os príncipios do amor
realizar a autópsia do supremo da maneira mais fria
arrancar os dentes do imaginário
e esmagar os olhos da esperança
Nessas noites
as sombras não devem ser respeitadas
e a imagem imediata
aquela que se esfrega no rosto da realidade
é a única que merece respeito
Nesses dias
devemos acalentar os próprios vermes
depois que o vírus disseminado
a morte se torna a fúria do fogo
ausência de algo que não conhecemos
e que nunca nos deixará em paz
by Marcos Losnak

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